sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Dialogismo...

A falácia democrática...

O sistema "dito" democrático é, a realidade assim o demonstra, uma táctica de ocupação do "poder" baseada na demagogia do acto e na manutenção inflexível e pertinaz do mesmo.

Aliás, a própria denominação do sistema politico dominante é já em si mesma uma falácia, um engano e um ardil.
Com efeito, a democracia grega ("demos kratia") de comum com o actual sistema democrático pouco mais tem que a designação. E esse pouco mais, a utilização do voto, tão pouco é exclusivo do sistema politico em causa.

A implantação do sistema democrático entre os atenienses foi levada a efeito por Clistenes, que viu nele a possibilidade de interditar o poder politico a tiranos e déspotas. Mas, o que não previu Clistenes foi a preversão da democracia, convertendo-se em demagogia.

A demagogia, já denunciada por Platão e Aristóteles, fundamenta-se na ignorância e na credulidade do "individuo-eleitor", condicionado por uma poderosa propaganda que o induz a aceitar o inaceitável. A manutenção intransigente do "adquirido", tem origem na legislação urdida pelo próprio "poder".

Publius (ou Gaius) Cornelius Tacitus (c.56-c.117), o famoso historiador da Antiguidade Romana, afirmava que "os tiranos esclarecidos não governam pelas armas , mas sim pelos juizes" (ou seja, pelas leis) !

Niccolò di Bernardo Machiavelli (Maquiavel 1469-1527), uma referência absoluta em matéria de manipulação psicológica, desaconselha ao "principe" a delicadeza e a sinceridade. Se quizer ser gentil e sincero, que mude de profissão !
Os filósofos sempre se questionaram "como agir correctamente" ; Maquiavel aconselha aos políticos que se perguntem somente "como agir", sem preocupações éticas !

O "governo do povo pelo povo", apesar de constituir uma referência obrigatória no catecismo da democracia, é uma falácia, uma frase oca de sentido.
Afirmava J.Stuart Mill, que o povo que exerce o poder não é o povo sobre o qual esse poder se exerce.

"Do povo e para o povo", entoam as sereias da partidocracia, escondendo que o seu conceito de "povo", como noção política, não é um fundamento do Sistema que apregoam, mas sim um pretexto do Estado de que se servem !

A democracia ateniense foi instituida como um processo contínuo de discussão pública, favorecedor da emergência do diálogo filosófico.
Porém, prevalecendo a opinião ("doxa") sobre o argumento, desenvolveu-se mais a sofistica que a filosofia, mais a palavra que o conceito. Desesperado, Platão não via mais que demagogia e teatrocracia no poder da palavra pública !

Conscientes da imprudência em prosseguir com a aventura democrática, cada vez mais sufocada pela demagogia e pela incapacidade operativa do sistema, os atenienses abandonaram a experiência, ressuscitada por novos demagogos, conhecedores de novos e sofistacados processos de manipulação. A credulidade popular mantém-se constante !

O que vemos impor-se, através do mundo mediático do "pensamento único", é uma concepção de "democracia utilitarista", cada vez mais de consentimento que de representação.
O voto não é mais que uma prova convencional para separar as ofertas políticas da partidocracia, como num mercado, enquanto a participação activa e o respeito pela expressão cultural do povo está fora dos projectos políticos do "sistema" !

Somos um povo "sebastianista", uma colectividade nacional que aguarda a chegada do "homem providencia" que lhe vai solucionar os problemas. E, obviamente, cansa-se de esperar… e desespera … !

Compete-nos ser cépticos, ser criticos com a História e separá-la do mito. Indagar se o que nos contam é verdade.
É fundamental conhecer o passado, para compreender o presente e preparar o futuro !

A ignorância nunca foi boa conselheira mas, transcrevendo Ramalho Ortigão nas "Farpas", ela tem algo de bom, pois "desaparece aprendendo" !

A solução deverá surgir através do encontro de opções, que somente poderão despontar de um diálogo culto, consciente e honesto.
Participemos na busca dessa solução ! Não aguardemos que nos apresentem alguma, fabricada for forâneos e provindo da névoa de uma madrugada obscura.

Temos vivido, melhor dizendo sobrevivido, de golpada em golpada e de esperança em esperança…
Mas, a derrota anunciada não é um determinismo. É um anúncio de contingência !

A problemática sociológica com que nos debatemos há séculos, deve ser convenientemente escalpelada para não continuarmos a pretender solucionar a nossa vivência de forma esotérica, temendo um Adamastor que nunca existiu ou sonhando com um Sebastião que já não existe.
No pós-modernismo ambiente, embevecidos pelos "marketings" e pelos "reality show", somos arrastados para o "nada" a golpes de indices de mercado e de procedimentos de rebanho ! Enquanto que na actividade politica deste país, o único que tem mudado são as moscas !

Compreendemos que é estulticia aguardar que a oligarquia politica e financeira resolva os nossos problemas.
Em nós reside a capacidade de encontrar o processo para os solucionar !

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de ler
E esta democracia é sem duvida o braço politico do capitalismo.

Legionário

Anónimo disse...

El impostor toledano Gabriel de Espinosa (El pastelero de Madrigal, estudio de Ruiz Ayucar)