sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Historicidade e Mito


Mito e Esoterismo…

Ao tratar o tema "mito", é de obrigatoriedade intelectual referir um dos maiores expoentes do seu estudo, o historiador romeno Mircea Eliade (1907-1986).
Curiosamente, este "revelador" dos processos arquétipos do mito, publicou (aos 14 anos) o seu primeiro livro, intitulado "Como descobri a pedra filosofal", uma espécie de prenúncio da conexão que, embora suposta, ele demonstraria existir entre o mito e o esotérico.

Le thème des mythes a toujours trait à un commencement ou à une transformation, racontent comment un état de choses est devenu un autre,
Como e em resultado de que encadeamento chegou o Homem ao ambiente existencial que o caracteriza ?

Os indios "Pawnee", da região norte-americana de Plate River, no Nebraska, ainda no século XVI em pleno fulgor cultural, distinguiam as histórias verdadeiras (os mitos) das histórias falsas (as lendas).
Segundo afirmavam, as "histórias verdadeiras" tratavam do começo do mundo, de seres astrais ou celestes, ou das epopeias dos heróis da comunidade, enquanto as "histórias falsas" tratavam de aventuras da vivência diária, inflacionadas pela imaginação.

Em todos os povos, os mitos eram considerados verdadeiros porque tratavam realidades.
Por exemplo, os mitos relacionados com a morte são considerados verdadeiros porque a morte é uma realidade que a característica mortal do Homem comprova de forma irrefutável.

Segundo Eliade, certas actividades sbmeteram-se a "um longo processo de dessacralisação", como os casos da dança, da guerra ou das leis, perdendo todo o seu carácter sagrado, embora sejamos conscientes de que, para cada um dos casos citados, existe ainda um protótipo mistico, um sentido de arquétipo.

Para os crentes no hinduismo, o conceito de "karma" pretende demonstrar que o sofrimento é necessário e merecido, como compensação para apagar, na vida presente, as faltas cometidas durante as vidas precedentes ("metempsicose").
Assim, o sofrimento tem uma causa e, consequentemente, um sentido.

Para o judaísmo, as catástrofes são chamadas de atenção da divindade (El, Eloah, Yahweh…).
Emanado da divindade, esses acontecimentos tinham um sentido que contribuia à valorização da história do "povo eleito".
Consubstancial à condição humana, mas exprimindo angústia perante uma divindade omnipotente e severa, o mito refugiou-se na sacralização, no misticismo e no ritual esotérico (1).
No caso da doutrina judaica, o esoterismo é um factor de enorme importância.

"As causas de exame, relativas ao esoterismo judeu são numerosas." (Paul Vulliaud 1875-1950 in "La Kabbale Juive")

Esoterismo e Historicidade

No Judaísmo, o sacrifício é conhecido como "korban", palavra oriunda do hebreu "karov", que significa "vir para perto de Deus" e, segundo a tradição judaica, em frente à única entrada do templo de Salomão em Jerusalém localizava-se o altar onde se sacrificavam pelo fogo seres humanos e animais. Esse altar designava-se : holocausto !

Nos tempos primordiais do judaísmo, o "holocausto" significa pois, o sacrificio oferecido ao deus da comunidade, denomine-se ele El Shaddai, Eloah ou Yahweh (YHWH), como prova de subordinação absoluta à divindade. Segundo a doutrina judaica o próprio patriarca Abraão esteve prestes a sacrificar o seu próprio filho para comprazer a divindade que o instigara a que assim procedesse.
Do sacrificio à divindade o judeu surge transfigurado ! O "povo eleito" justifica a predilecção do "ente supremo".

A Tanakh (que os cristãos denominam Biblia Judaica ou Antigo Testamento) é uma elaborada crónica da mitologia judaica da qual transparece um desmembramento do "povo eleito" pelo sacrificio, seguido de uma regeneração através de experiências iniciáticas que o transmutam como "entidade cósmica", imagem perfeita da divindade, reflectida no "homem judeu" e no "Estado de Israel".

Como refere Fulcanelli (in "O Mistério das Catedrais"), a união dos dois triângulos (fogo e água) geram o astro de seis pontas, o selo de Salomão, hieróglifo da "obra" por excelência, a pedra filosofal dos alquimistas. Aquí, a relação com o número seis (6) é evidente !
Graças aos seis milhões de sacrificados no altar do "holocausto", a estrela de David guiará o mundo.

Para compreender o acontecimento denominado "Holocausto" devemos entender o significado hermético de certos termos.
As denominações alquimicas - terra, ar, água e fogo - não designam substâncias físicas ou químicas, mas sim "principios".
A "terra" não é a do vaso de flores, nem a água a que sai das torneiras. Trata-se das quatro fases da matéria-prima, através das diversas provas da "obra" hermética.
­ Terra : sólido ­ Ar : gasoso ­ Água : liquido ­ Fogo : plasma.

O processo hermético ("gradual hermético") comporta imperativamente uma operação de "densificação", qualificada também como "compressão".
A "densificação" postula assim, uma deportação prévia a uma "compressão", ou "concentração", que são o ponto de partida deste mito do século XX.

A problemática do "Holocausto" reflecte as várias fases do mito :
A câmara (de gás) : prova da "terra"
Reside na passagem pela "câmara", a morte pelo sacrificio, a morte implícitamente aceite, pois expressa a vontade da divindade, cujo "povo eleito" deve sofrer esta experiência como uma "catarsis" exigida pela vontade divina.
Como nas antigas "doutrinas de mistérios", a entrada na "câmara" em estado de absoluta nudez representa o retorno à matriz terrestre, na perspectiva de uma remontada a mundos superiores.
A "câmara" revela-se como um local de trânsito necessário, expressão de um caos inicial na via da restauração do povo de Israel através dos "quatro elementos".

O gás : prova do "ar"
Se a "câmara" representa a "prova da terra", a difusão gasosa implica a aquisição das virtualidades do mundo subtil e aéreo que impregna o individuo.
É um dos aspectos do "dissolvente universal" dos seguidores da Kabbalah.

O duche : prova da "água"
É a "lustração", uma fase da purificação.
Psicológicamente, a imersão provoca uma sensação de retorno à matriz original, tal como o "foetus" no seio da mãe, envolvido pelo liquido amniótico.
O principio ainda se verifica no baptismo cristão ou no banho dos hindus no rio Ganges.

O forno crematório : prova do "fogo"
A purificação pela água é ainda parcial e exterior, e somente o fogo completará a purificação interior.
Igne Natura Renovatur Integra (INRI) ! ( para os cristãos : Iesus Nazarenus Rex Iudæorum. )
Simbolicamente, a cremação ou prova do fogo é, na alquimia, assimilado à denominada "via seca".
Para os judeus, o fogo é expressão directa da divindade, como o prova o próprio significado de "Holocausto".
É uma sublimação para a matéria previamente preparada pelas etapas anteriores, um poderoso simbolismo alquimico da Kabbalah que estabelece um elo indivisível entre os vivos e os mortos pelo fogo.
Em certos rituais gregos da Antiguidade, o fumo das gorduras de carne eram uma homenagem e uma ofrenda aos deuses.

Os anunciadores do "Holocausto", e muitos deles talvez de boa fé (concedo-lhes o beneficio da dúvida), continuam a referir "6 milhões de judeus mortos".
Porém, e lamentando todas as mortes, já que "um só morto" já seria "um morto a mais", devemos ser conscientes de que Lech Walesa, em 1995, quando presidente da Polónia, fez inscrever, sobre o monumento de Birkenau, 1.500.000 "pessoas" mortas, em substituição de um outro memorial, retirado em 1990, que referia 4.000.000 de mortos, que o historiador Gerald Reitlinger (1953) referiu um cômputo global de 800.000 a 900.000 "pessoas" ("The Final Solution", London, Sphere Books, 1971 [1953], p.500) e que Jean-Claude Pressac (escritor judeu) (1994), anunciou 470.000 a 550.000 "judeus" gaseados ("Die Krematorien von Auschwitz/ Die Technik des Massenmordes, Munich, Piper, 1994, p.202).

É pois, pela manutenção de um mito fundador do judaísmo que tanto se insiste nos 6 milhões de mortos…
O número seis (6) é importantíssimo na Gematria da Kabbala, conjuntamente com o Notarikon e a Temurah.

O "Holocausto", como "climax" da "Tribulação" profetizada por Daniel, seguido pelo regresso à "Terra Prometida" ("Eretz Israel") e ao consequente dominio mundial do "povo eleito" sobre os "goyim", é um mito fundador anunciando que a estrela de seis pontas de David "guiará o mundo" !

Dentro de cada doutrina ou culto (judaísmo, cristianismo, islamismo, cultos de mistério, Mithra, Serapis…) cremos que mitos e profecias têm todo o direito de existir.
Outra coisa muito diferente, é quando algum deles pretende impor-se como acontecimento histórico (como o "Holocausto", a existência de Cristo ou as mensagens do "arcanjo" Gabriel a Muhammad), independentemente de acontecimentos trágicos que possam estar relacionados com os crentes de qualquer dessas doutrinas e que profundamente lamentamos.

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(1)
O esoterismo (do grego "esoterikos", "interior") designa a parte secreta de uma aprendizagem geralmente metafísica ou religiosa.

5 comentários:

Anónimo disse...

Absolutamente notável, caro Lugano.
Eu gosto de “sondar” várias perspectivas de acontecimentos históricos e políticos.

A palavra é bem mais forte que a espada.
Pois a luta através da palavra, sem morte no juramento.
Ajuda a Humanidade a subir mais uma "escada".
Em busca do nível mais alto do Conhecimento.


Desejo uma boa estadia na “Esfera da Liberdade”.

O Sentinela.

Anónimo disse...

Caro Lugano,

Muito interessante o seu texto. Estou escrevendo um ensaio sobre Israel e citarei alguma coisa do seu texto, dando-lhe o devido crédito.
Qual a fonte da afirmativa: "segundo a tradição judaica, em frente à entrada do templo de Salomão em Jerusalém localizava-se o altar onde se sacrificavam pelo fogo seres humanos e animais"?
Sds
Mauro Mendes
jmaurom@oi.com.br

Anónimo disse...

George Soros......Olhos verdes ou azuis ?

Anónimo disse...

Jewish heritage in France: Mandel

Anónimo disse...

Autor católico francés: Manduel