terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Dialogismo...

A linguagem "versus" o politicamente correcto

A linguagem é uma actividade criadora, uma actividade cultural que desenvolve significados próprios, participando activamente na formulação de julgamentos e preconceitos. Como nos diz Émile Benveniste, "pensamos um universo que a nossa linguagem previamente modelou". Cada cultura está directamente relacionada com a linguagem em que se expressa !

A cultura europeia é composta por uma diversidade de culturas regionais que se apresentam como ramos de uma mesma árvore, como múltiplos aspectos dissemelhantes, mas com um denominador comum. Uma espécie de caleidoscópio de uma imagem singular !
E essa nossa riqueza, como europeus autóctones, tem a particularidade das linguagens.

Porém, referindo o âmbito europeu devemos fazer uma particular atenção ao facto de que a "modernidade" impõe-nos a existência de "duas" Europas, politicamente sobrepostas.
A Europa geográfica, constituindo um continente (ou um sub-continente para os mais preciosistas), e outra, a da burocracia politico-financeira, assente nos gabinetes de Bruxelas.

Se na Europa geográfica se falam 43 linguas, uma diversidade linguistica que é uma das riquesas culturais do "Velho Continente", os funcionários da Europa bruxelense somente reconhecem 11, subdivididas em quatro "familias" :
- latinas (francês, italiano, espanhol e português)
- germânicas (alemão, inglês, holandês, sueco e dinamarquês)
- helénicas (grego)
- fino-ugrienses (finlandês).

No entanto, e com aquela devoção que reconhecemos nos funcionários de Bruxelas, a sua obediência ao "Grande Irmão" impele-os a implementar uma lingua única, com a finalidade de facilitar a normalização dos costumes e o pensamento singular do "politicamente correcto".
Na impossibilidade prática de impor o "esperanto" ou o "volapuk", avançam com um inglês simplificado (que provocaria a fuga apressada de Shakespeare), no estilo do "newspeak" ("novalingua") que Orwell prenunciava no seu profético "1984" !

Submetidos ao "diktat" do politicamente correcto, a lingua mais frequentemente falada pelos europeus é já o inglês (41 %), seguida pelo francês (19%), o alemão (10%), o espanhol (7%) e o italiano (3%).

A cultura europeia, que se desenvolveu na diversidade criadora da linguistica, do filosófico, do artístico e do ciêntifico, de Anaximenes a Cicero, de Goethe a Voltaire e Heidegger, a Galileo, Ortega, Eça, Wagner, Velasquez e tantos outros, verá as suas raizes amputadas pelos "neoigualadores" de turno, incapazes de distinguir uma ironia de Ortigão de uma sátira de Juvenal (evidentemente… em inglês).
Terrivel destino para a "vox populi" de quem lavra os campos, e da "ars scribendi" de quem lavra as mentes…

Mas, que importa aos assalariados da eufemística União Europeia que a cultura não seja programável ?
Pagam-lhes para "convergir", para sintetizar o convergente… e tudo envolto em inglês "macarrónico", esse inglês de "business" para o qual "cultura" não é mais que um produto de "marketing".

Escrevia o imortal Eça de Queiróz, irónicamente contundente como (quase) sempre :
"Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.
Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter.
(…)
Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! ... "
Eça de Queiroz, in "A Correspondência de Fradique Mendes"

1 comentário:

Anónimo disse...

Interesante discorso, ma credo che pure senza un conoscimento di altre lingue, non si può imparare quello che altri culture hanno di positivo...e quindi senza conoscere altre lingue possiamo finiere conoscendo unicamente quello nostro,che, obviamente è
bello, ma forse non suficiente.

Bravo signor, Lugano, ha lei un bello blog, che ogni giorno ci fa imparare un po più.

Saluti,

Riccardo Patavino