domingo, 24 de junho de 2007

Sistema Oligárquico e Regime Democrático ( IV )





diz-nos
a constatação dos factos…
.

Pretende o precedente despretencioso resumo histórico, assim como a transcrição de alguns textos de pensadores da Antiguidade grega, aclarar genéricamente o que foram, na realidade, os 170 anos de "democracia" na Grécia Antiga.
Uma experiência perversa de controlo dos individuos em benefício de "grupos de poder", uma experiência que falhou, mas que criou escola.
E muitos séculos depois… cá a temos de novo.
A memória humana é curta, e os demagogos de hoje são muito mais poderosos e pérfidos que os atenienses de então.

Podemos concluir, perante o testemunho da História, e não das histórias que nos contam, que :

1.
não existiu nunca nenhuma reflexão filosófica nem teorização política para o "facto democrático", e o seu iniciador (Clístenes) actuou em benefício próprio (da sua pretensão política) quando aliou o povo ("demos") às instituições políticas ("politeia") através da sua própria "hetaireia" (grupo político)..

2.
a "democracia" nunca foi mais que um "regime" actuante dentro de um "sistema político", uma estruturação do Estado adaptada a uma concepção ("ideologia") imposta pelo "grupo de poder" em funções (aristocracia, tirania ou oligarquia).

3.
a "democracia" nunca actuou objectivamente em beneficio do povo mas, utilizando a credulidade e a ignorância deste, em beneficio dos políticos profissionais ("demagogos") que lutavam pela manutenção das suas prerrogativas de poder no contexto de grupos partidários.

4.
as benesses, os subsidios, os subornos, etc, sempre constituiram um meio ("suborno e corrupção") de conseguir apoiantes para os objectivos do "sistema político".

5.
o regime democrático teve o apoio do povo ("demos"), em certo momento desbordante de exigências ("oclocracia"), enquanto houve beneficios económicos (crematísticos) para distribuir. A distribuição do sobrante enriquecimento do "grupo de poder" era suficiente para manter o "demos" num estado de "servidão voluntaria". O apoio foi-se desvanecendo à medida que os "negócios" se tornaram menos activos, diminuindo o fluxo de riqueza.
A monumentalidade das edificações, ou o "bem-estar" material de Atenas no "século de ouro", deve-se a circunstâncias militares de carácter económico-colonialista (imperialismo ateniense) e da capacidade de chefia de Péricles, nunca dependendo do tipo de regime em funções.
Não esqueçamos que o "grande Péricles" foi condenado "à desonra" pelos próprios atenienses…

6.
a permissividade do "regime democrático" provocou o descalabro social, a nivel da cidade, da familia e do individuo ; através dessa ilimitada tolerância o "sistema politico" controlava facilmente qualquer assomo de crítica, fazendo com que os demagogos conduzissem actuações populares contra esses "inimigos do bem e da tranquilidade do povo" (um discurso bem conhecido…).

7.
quando se tornaram conscientes do desastre que o "regime democrático", criador de um Estado "demagógico", tinha causado à sua comunidade, os próprios atenienses aplicaram-lhe uma espécie de "irradicação da memória" ("damnatio memoriae"), principalmente ao seu fundador Clistenes, de quem não ficou para a História nem um só documento contemporâneo sobre os seus actos.
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comentário
Constatamos pois, que a imagem dada pelos políticos, e respectivos "satélites" pseudo-intelectuais, sobre a "democracia" é já um fruto do processo demagógico que a envolve.
O regime democrático é uma organização do Estado concebida de forma preversa, aleivosa e pérfida, orientada à consecução de um projecto político da classe dirigente e executada numa base demagógica e manipuladora.
Através do "regime democrático", a servidão voluntária é a resposta pretendida pelo "sistema politico".
Individuos satisfeitos com o "panem et circenses", ignorantes ou especializados em conhecimentos fragmentários que não lhes permitem uma perspectiva filosófica do "pluriversum" envolvente.
Ocupação permanente, ambiente ruidoso, insegurança, manipulação informativa… elementos que faltaram à "democracia" da Antiguidade, e utilizados à saciedade na "democracia" que vivemos.

Sabemos quão utópico é, esperar que uma maioria seja consciente da falácia democrática…
Mas, será possivel reunir num projecto comum todos aqueles que já se aperceberam que o termo democracia traduz um objectivo Estatal, imposto por um "sistema politico" oligárquico, fundamentado na demagogia de uma série de títeres remunerados e subvencionados para actuar contra o interesse legitimo dos povos ?
Um projecto em que cada um se liberte do seu egoismo, em que cada um dispa o uniforme das suas certezas absolutas, em que cada um deixe à porta os seus hinos e as suas bandeiras, e se dedique (humildemente) a aprender o que a História nos revela, e a aplicar um raciocinio critico às virtualidades que nos são apresentadas como verdades dogmáticas.
A única possibilidade de ser livre passa pela nossa própria libertação dos conceitos e hábitos que os manipuladores nos incutem.
Cada um de nós, perante as gerações futuras, será julgado pelos seus actos, não pelas suas intenções !

2 comentários:

PintoRibeiro disse...

Um excelente, mais um, texto.

António Lugano disse...

ao "pintoribeiro"
Grato...