segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sapientia est Potencia. (2/2)



.
.


* os homens crêem
no que querem crer

.
V

Do marxismo-bolchevique ao nacional-socialismo, vários e diversos desenhos foram surgindo na tentativa de construir um novo "Imperium europeu".
Lenine defendia uma Europa de "Estados socialistas" e Hitler apresentava Carlos Magno como uma referência !

Com as "nações" amalgamadas em "países", os povos foram perdendo a sua identidade e transformados em populações, enquanto as suas expressões culturais foram adquirindo o "status" de folclore.
Mas, os "intelectocratas" de turno não perderam nunca o rumo da Europa em direcção ao "Imperium", uma noção que inclui versões de uma "Europa dos Urais ao Atlántico" (De Gaulle), de "Eurosibéria" (sem aclarar se as Berlengas estão incluidas) e, pode imaginar-se, incluindo Istambul, Tel Aviv ou Rabat…

Nos anos 50 do século XX inicia-se a formatação de uma "Europa dos negócios" imersa num pensamento único e "politicamente correcto", que originou a burocrática e preversa "coisa" denominada "União Europeia", controlada pela finança internacional.
Dentro desta "marmita" em que se cozinha o esvaecimento, e consequente desaparecimento da identidade dos povos europeus, certos "intelectocratas" (com o apoio de alguns bem intencionados "compagnons de route") vão discutindo a forma organizativa da "nova Europa" abandonando à sua sorte, e ao seu fatídico destino, aquilo que faz da Europa algo mais que uma noção geográfica : os povos que a constituem.
Se aqueles que tentavam um despertar para a "Europa dos Povos" foram confrontados com "mestres censores", agora têm que enfrentar os "mestres pensadores", que já não censuram (não é democrátio), "somente" impõem um pensamento.
Como diria um "shadok" (aqueles bonecos de lógica paradoxo-antinómica) "cada um é livre de pensar o que queira, desde que queira pensar o que eles pensam".

A impostura intelectual difundida pelos "bem-pensantes" da "Europa uber alles" vai transformando a acção política numa espécie de "Disneylandia" onde o pensamento único faz de fluido eléctrico que movimenta as atracções.
A nobreza pós-moderna (digo nobreza, não aristocracia), agora denominada "eurodeputada", representa o "nec plus ultra" dos já citados "intelectocratas", guardiães de uma ortodoxia progressista, tão meliflua e sinuosa quão vociferante e propensa à invectiva relativamente aos que expressam um pensamento não-normalizado.
Esse maniqueísmo acusador repousa sobre uma ideología bem ensaiada que consiste em enviar para as trevas mais profundas (na sua perspectiva) todo o hereje ao pensamento correcto… Se esses individuos tivessem hábito de leitura, para além dos extractos de conta bancária e do folheto de instruções do telemóvel, certamente que o "Malleus Malleficarum" seria o seu livro de cabeceira.

VI

Perante essa corja balbuciante, distribuindo benesses aos que mais forte balem e medalhas de virtude aos que melhor esganiçam hinos e louvores, a vida intelectual vai-se reduzindo a uma mascarada sem substância.
Compete-nos a coragem de enfrentar vibrantemente a preguiça intelectual com que nos pretendem adormecer e oportunamente recordar-lhes que a nossa razão critica estigmatiza os processos crédulos com que aspiram criminalizar a nossa dúvida.

Evitemos a armadilha de utilizar a linguagem como um processo de cacarejo tautológico de palavras com uma significação assumida pelo hábito, e tornemo-nos conscientes de que, não poucas vezes, esse hábito é-nos insinuado, sugerido por processos de manipulação já aquí referidos, e que não se resumem a simples vocábulos mas, e maioritariamente, a locuções e conceitos.
Desde os areópagos do "pensamento único" divulgam-se conceitos absolutamente desenquadrados da realidade e da semântica.
Proclamam "nação" como sinónimo de "país" quando objectivamente "nação" representa uma "unidade etno-cultural", enquanto "país" é o sucedáneo do "Estado-Nação" inventado no século XVI com o objectivo de amalgamar povos em grupos populacionais heterogéneos, pervertendo o entrosamento "etno cultural" que o feudalismo não havia conseguido desvirtuar.
Insistem nas designações de "direita-esquerda" como se essa definição inventada durante a insurreição maçónica de 1789 em França, para classificar os grupos políticos pela sua localização nas bancadas da Assembleia, fosse algo de determinante relativamente a um qualquer modelo ideológico.
Vociferam à saciedade que "democracia" é "Praesumptio juris et de jure", representação excelsa da liberdade de pensamento, pelo que… legislam com graves penas para quem pretenda o contrário. Utilizam de forma falaciosa o termo "democracia" (um regime politico que os gregos experimentaram e abandonaram por demagógico) como se os governados (dirigidos) por uma oligarquia que se reveza no "poder", tivessem alguma opção de os destituir desse mesmo "poder". As eleições são uma flagrante demonstração de manipulação, pela qual a oligarquia selecciona, entre as organizações políticas que ela mesma permite, os candidatos a serem objecto de eleição pelos alucinados votantes.
Outro alucinogénio politico utilizado em pletora é o termo Europa.
Quando algo vai mal (e tudo vai mal) o remédio, a panaceia é a Europa, como se para além de significar um mito grego ou designar um acidente geográfico, fosse também uma solução alquimica ou uma poção milagreira.
A Europa é, e será, o que são e forem os povos que a contituem.
A tão propalada "crise europeia" nada mais é que o reflexo da perturbação identitária dos povos europeus, arregimentados em países, forçados a um pensamento único e subvertidos por uma maquiavélica invasão migratória.

Que o "Novus Ordo Seclorum", sistema politico-religioso que controla o mundo, insista na ideia de "Imperium" para a Europa, é perfeitamente compreensível e concordante com o seu projecto de destruir a identidade dos povos, e consequentemente a sua cultura.
A Carlos Magno, Oton, Francisco I ou Napoleão, faltou-lhes a técnica de manipulação e os artefactos tecnológicos para impor a sua solução de arrebanhamento dos povos europeus. Essa "deficiência" está hoje superada !
Mas, o que pode parecer estranho, se não tivermos em conta o que já foi dito sobre a manipulação e o "mind control", é como pessoas conscientes dos maleficios do "Novus Ordo Seclorum" podem pretender possivel construir uma "nova Europa" mantendo as estruturas políticas delineadas pelos defensores do "Imperium", ou seja, a anulação das expressões culturais europeias e o amalgama dos povos em populações.

Confusão, incompreensão, simples credulidade, ma-fé, infiltração… creio que de tudo isto um pouco.
Cui bono ? (Quem beneficia?) Cicero, Pro Milone, 12.32 (expressão atribuida a Lucius Cassius - 137 EP)
Talvez, quando houver uma maior preocupação em saber o que (ou quem) está por detrás de alguns dos apologistas do europeismo (desde a "Europa estrangeira"), se decante um processo de "realmente" edificar uma "nova Europa", uma "Europa política", no respeito pelas "unidades etno-culturais" que deverão ser a sua estrutura fundamental.

VII

A menos que se sonhe com um golpe de palácio nas instituições da "Europa de Bruxelas", em simultaneidade com processos idênticos nas capitais dos países associados, sucesso que nos parece ser produto de um sonho esquizofrénico (ou montagem manipuladora), como querem os europeistas alterar a estrutura da "Europa dos negócios" desde uma proposta de boas intenções ?
Ou estamos perante um iniciático "sudoku" politico-contemplativo, ou somos espectadores de uma maiêutica "a contrario" !

Alguém comentou que o "europeismo bem pensante" é fruto de uma ignorância feliz… o que pelo menos seria prova de uma boa-vontade !

Ou alteramos os conceitos unidimensionais do "homem europeu", provocatoriamente enunciados por Herbert Marcusa, um "fellow" da "Frankfurter Schule", ou continuaremos a ser irreversivelmente alvos dos tecnocratas de Bruxelas, Roma, Aix-la-Chapelle ou Paris…

Se nos afirmam que "defender uma Europa dos povos" significa, por deslizamento semântico, "apoiar a Europa do euro", a "Europa do Banco Central", a "Europa dos países", tenhamos a minima decência de nos afirmarmos "antes escravos que servos" ; porque um escravo luta pela sua liberdade, enquanto um servo nunca deixará de ser um animal doméstico.

Saibamos interpretar o que nos dizem desde o "politicamente correcto", não permitindo manipulações que nos conduzam a aceitar como verdadeiras, afirmações produzidas por individuos e instituições que não nos merecem nem o beneficio da dúvida.
Não aceitemos conceitos, que nos dizem implícitos, subentidos ou tácitos, sem um exame critico aos mesmos.
A linguagem, conjuntamente com a percepção, é como um apoio instintivo ao pensamento, e já conhecemos o poder que instintos e emoções têm na consciencialização do que testemunhamos, ou do que nos fazem crer que são factos que podemos testemunhar.
Sejamos suficientemente criticos para indagar se o que nos dizem ser acontecimentos históricos, se fundamentam em factos reais ou em monumentais aldrabices.

VIII

O "nacionalismo" pode ser, e tem sido, encarado como um processo mais de fazer política, ou seja, de chegar ao poder politico, como se fosse um produto mais do supermercado da "partidocracia" : o nacionalismo na prateleira de cima, entre o liberalismo e o marxismo…
Porém, "nacionalismo" ao provir da raiz "nação", um termo que sociologicamente refere uma "unidade etno-cultural", é projectado como conceito englobante de duas realidades de importância maior : o etno (povo) e a cultura.
Talvez por isso, o "nacionalismo" mantém um poder subjectivo junto dos povos que o sistema politico-religioso dominante não conseguiu desvanecer, apesar de todo o esforço de "demonização", de vilipendia e desqualificação, infelizmente secundado por um tropel difamatório originado por individuos em crise de ansiedade.

A nossa defesa do "nacionalismo" fundamenta-se na concepção do próprio "nacionalismo" como filosofia de vida, de coexistência em comunidades subsidiárias, do "ser" como finalidade, e na recusa do "ter" e da usura como objectivo.

Uma Europa, representação política dos povos e expressões culturais que a determinam, somente será possivel se iniciarmos a sua restauração pela raiz da árvore (yggdrasil) que é seu suporte e representação.

Apoiamos a Europa, o renascimento europeu, numa perspectiva nacionalista (desde as nações que a constituem), e não como expressão dos países (dos governos, das multinacionais e dos bancos) , qualquer que seja a oligarquia que se pretenda colocar no "trono", qualquer que seja a divindade que se pretenda colocar no "altar".

Para que as novas gerações possam ser intelectualmente livres, ou que pelo menos tenham oportunidade de o ser !

"Anerrifthô Kubos"
(Que se lancem os dados)
Julio César, após atravessar o Rubico - 49 EP

2 comentários:

PintoRibeiro disse...

Simplesmente muito bom, mesmo.

António Lugano disse...

Prezado Pinto Ribeiro
É francamente motivador ser alvo de tão enaltecido comentário.
Grato !