quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Perspectiva (IV)


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linguagem
como convenção
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Para Noam Chomsky (1928- ), professor de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a linguagem está "pré-organizada" na estrutura neuronal do cérebro (cortex cerebral) na qual o "envoltório social" formatea uma linguagem particular.
Assim, todas os idiomas partilham um conjunto limitado de princípios de organização baseado num projecto prévio inerente ao cérebro humano e transmitido geneticamente sob a forma de gramática universal ou plano linguístico para construir a linguagem, razão pela qual as crianças aprendem a falar aproximadamente à mesma idade (5 anos).

Aprender a falar significa dominar um conjunto particular de regras que permitem organizar a linguagem.

A linguagem humana é tão diferente de qualquer outra coisa do reino animal que ele não é entendível como poderia ter-se desenvolvido a partir de gritos ou gestos ancestrais, quando é perfeitamente concebível como efeito emergente das nossas capacidades cognitivas.

Numa sociedade que se inventa em cada instante, o homem permanentemente passa do que sabe ao que ignora, pelo que (por necessidade) deve aprender, innovar, e para concretizar essa finalidade intrínseca necessita de uma ferramenta adequada, recorrendo para isso ás qualidades especificas da linguagem humana.

Apesar da mediocre estima que o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) tinha sobre o "homem falante" ("Homo loquax"), "de que o pensamento, quando pensa, não é mais que um reflexão sobre a palavra", a realidade não nos parece tão redutora, e o pensamento pode (deve) estar na origem da palavra.

A linguagem, como diálogo, como discussão critica, está intimamente relacionada com a faculdade que tem o humano de pensar racionalmente.

O triunfo do "Homo loquax" sobre o "Homo faber", é o da "poiesis" sobre a "praxis", da criação sobre a fabricação.

Para o linguista suisso Ferdinand de Saussure (1857-1913), considerado o fundador da linguistica moderna, "a linguagem é uma forma, não uma substância".
Este simples principio, quase diriamos "esta constatação", é tremendamente importante para a compreensão do módulo "linguagem-pensamento".

Insistindo que uma "lingua" é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser consideradas num contexto de solidariedade síncrona, sem o qual não existiria "esse" conjunto linguistico, a "lingua" em causa.

Para Saussure, o "sinal linguistico" (que vulgarmente designamos como "palavra") é composto de duas faces, como as duas faces de uma moeda :
* o significante, ou "forma fónica" (o som) da palavra ;
* o significado, ou "imagem" ("conceito") da palavra.

Assim, o "sinal linguistico" "gato" é composto pelo som produzido pela articulação fónica do termo ("significante") e pelo conceito ("significado") que lhe atribuimos (pequeno animal, coberto de pelos, de grandes bigodes, que mia …).
Da mesma palavra, "significante" e "significado" são inseparáveis, não existe um sem o outro.

"A linguagem é uma convenção..."

Quanto ao poder da linguagem, aqui deixamos este testemunho de "Gorgias", extraido do diálogo homónimo escrito por Platão :

"Refiro-me ao poder de, por seus discursos, persuadir os juizes do tribunal, os senadores no Concelho, os cidadãos na assembleia do povo e em qualquer outra reunião de cidadãos.
Com esse poder, farás escravo o teu médico, teu escravo o mestre de ginástica e, quanto ao famoso financeiro, todos reconhecerão que não é para ele que amontoa dinheiro, mas para outro, para ti que sabes falar e persuadir as multidões."
Platão, Gorgias, ed. GF, 451d-452

Daí o discurso incessante dos politicos, difundido à saciedade pelos ventiladores mediáticos do "Sistema", pretendendo impor um processo de raciocinio crédulo através de uma retórica demagógica fundamentada na aculturação ambiente.

continua

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