segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sapientia est Potencia. (2/2)



.
.


* os homens crêem
no que querem crer

.
V

Do marxismo-bolchevique ao nacional-socialismo, vários e diversos desenhos foram surgindo na tentativa de construir um novo "Imperium europeu".
Lenine defendia uma Europa de "Estados socialistas" e Hitler apresentava Carlos Magno como uma referência !

Com as "nações" amalgamadas em "países", os povos foram perdendo a sua identidade e transformados em populações, enquanto as suas expressões culturais foram adquirindo o "status" de folclore.
Mas, os "intelectocratas" de turno não perderam nunca o rumo da Europa em direcção ao "Imperium", uma noção que inclui versões de uma "Europa dos Urais ao Atlántico" (De Gaulle), de "Eurosibéria" (sem aclarar se as Berlengas estão incluidas) e, pode imaginar-se, incluindo Istambul, Tel Aviv ou Rabat…

Nos anos 50 do século XX inicia-se a formatação de uma "Europa dos negócios" imersa num pensamento único e "politicamente correcto", que originou a burocrática e preversa "coisa" denominada "União Europeia", controlada pela finança internacional.
Dentro desta "marmita" em que se cozinha o esvaecimento, e consequente desaparecimento da identidade dos povos europeus, certos "intelectocratas" (com o apoio de alguns bem intencionados "compagnons de route") vão discutindo a forma organizativa da "nova Europa" abandonando à sua sorte, e ao seu fatídico destino, aquilo que faz da Europa algo mais que uma noção geográfica : os povos que a constituem.
Se aqueles que tentavam um despertar para a "Europa dos Povos" foram confrontados com "mestres censores", agora têm que enfrentar os "mestres pensadores", que já não censuram (não é democrátio), "somente" impõem um pensamento.
Como diria um "shadok" (aqueles bonecos de lógica paradoxo-antinómica) "cada um é livre de pensar o que queira, desde que queira pensar o que eles pensam".

A impostura intelectual difundida pelos "bem-pensantes" da "Europa uber alles" vai transformando a acção política numa espécie de "Disneylandia" onde o pensamento único faz de fluido eléctrico que movimenta as atracções.
A nobreza pós-moderna (digo nobreza, não aristocracia), agora denominada "eurodeputada", representa o "nec plus ultra" dos já citados "intelectocratas", guardiães de uma ortodoxia progressista, tão meliflua e sinuosa quão vociferante e propensa à invectiva relativamente aos que expressam um pensamento não-normalizado.
Esse maniqueísmo acusador repousa sobre uma ideología bem ensaiada que consiste em enviar para as trevas mais profundas (na sua perspectiva) todo o hereje ao pensamento correcto… Se esses individuos tivessem hábito de leitura, para além dos extractos de conta bancária e do folheto de instruções do telemóvel, certamente que o "Malleus Malleficarum" seria o seu livro de cabeceira.

VI

Perante essa corja balbuciante, distribuindo benesses aos que mais forte balem e medalhas de virtude aos que melhor esganiçam hinos e louvores, a vida intelectual vai-se reduzindo a uma mascarada sem substância.
Compete-nos a coragem de enfrentar vibrantemente a preguiça intelectual com que nos pretendem adormecer e oportunamente recordar-lhes que a nossa razão critica estigmatiza os processos crédulos com que aspiram criminalizar a nossa dúvida.

Evitemos a armadilha de utilizar a linguagem como um processo de cacarejo tautológico de palavras com uma significação assumida pelo hábito, e tornemo-nos conscientes de que, não poucas vezes, esse hábito é-nos insinuado, sugerido por processos de manipulação já aquí referidos, e que não se resumem a simples vocábulos mas, e maioritariamente, a locuções e conceitos.
Desde os areópagos do "pensamento único" divulgam-se conceitos absolutamente desenquadrados da realidade e da semântica.
Proclamam "nação" como sinónimo de "país" quando objectivamente "nação" representa uma "unidade etno-cultural", enquanto "país" é o sucedáneo do "Estado-Nação" inventado no século XVI com o objectivo de amalgamar povos em grupos populacionais heterogéneos, pervertendo o entrosamento "etno cultural" que o feudalismo não havia conseguido desvirtuar.
Insistem nas designações de "direita-esquerda" como se essa definição inventada durante a insurreição maçónica de 1789 em França, para classificar os grupos políticos pela sua localização nas bancadas da Assembleia, fosse algo de determinante relativamente a um qualquer modelo ideológico.
Vociferam à saciedade que "democracia" é "Praesumptio juris et de jure", representação excelsa da liberdade de pensamento, pelo que… legislam com graves penas para quem pretenda o contrário. Utilizam de forma falaciosa o termo "democracia" (um regime politico que os gregos experimentaram e abandonaram por demagógico) como se os governados (dirigidos) por uma oligarquia que se reveza no "poder", tivessem alguma opção de os destituir desse mesmo "poder". As eleições são uma flagrante demonstração de manipulação, pela qual a oligarquia selecciona, entre as organizações políticas que ela mesma permite, os candidatos a serem objecto de eleição pelos alucinados votantes.
Outro alucinogénio politico utilizado em pletora é o termo Europa.
Quando algo vai mal (e tudo vai mal) o remédio, a panaceia é a Europa, como se para além de significar um mito grego ou designar um acidente geográfico, fosse também uma solução alquimica ou uma poção milagreira.
A Europa é, e será, o que são e forem os povos que a contituem.
A tão propalada "crise europeia" nada mais é que o reflexo da perturbação identitária dos povos europeus, arregimentados em países, forçados a um pensamento único e subvertidos por uma maquiavélica invasão migratória.

Que o "Novus Ordo Seclorum", sistema politico-religioso que controla o mundo, insista na ideia de "Imperium" para a Europa, é perfeitamente compreensível e concordante com o seu projecto de destruir a identidade dos povos, e consequentemente a sua cultura.
A Carlos Magno, Oton, Francisco I ou Napoleão, faltou-lhes a técnica de manipulação e os artefactos tecnológicos para impor a sua solução de arrebanhamento dos povos europeus. Essa "deficiência" está hoje superada !
Mas, o que pode parecer estranho, se não tivermos em conta o que já foi dito sobre a manipulação e o "mind control", é como pessoas conscientes dos maleficios do "Novus Ordo Seclorum" podem pretender possivel construir uma "nova Europa" mantendo as estruturas políticas delineadas pelos defensores do "Imperium", ou seja, a anulação das expressões culturais europeias e o amalgama dos povos em populações.

Confusão, incompreensão, simples credulidade, ma-fé, infiltração… creio que de tudo isto um pouco.
Cui bono ? (Quem beneficia?) Cicero, Pro Milone, 12.32 (expressão atribuida a Lucius Cassius - 137 EP)
Talvez, quando houver uma maior preocupação em saber o que (ou quem) está por detrás de alguns dos apologistas do europeismo (desde a "Europa estrangeira"), se decante um processo de "realmente" edificar uma "nova Europa", uma "Europa política", no respeito pelas "unidades etno-culturais" que deverão ser a sua estrutura fundamental.

VII

A menos que se sonhe com um golpe de palácio nas instituições da "Europa de Bruxelas", em simultaneidade com processos idênticos nas capitais dos países associados, sucesso que nos parece ser produto de um sonho esquizofrénico (ou montagem manipuladora), como querem os europeistas alterar a estrutura da "Europa dos negócios" desde uma proposta de boas intenções ?
Ou estamos perante um iniciático "sudoku" politico-contemplativo, ou somos espectadores de uma maiêutica "a contrario" !

Alguém comentou que o "europeismo bem pensante" é fruto de uma ignorância feliz… o que pelo menos seria prova de uma boa-vontade !

Ou alteramos os conceitos unidimensionais do "homem europeu", provocatoriamente enunciados por Herbert Marcusa, um "fellow" da "Frankfurter Schule", ou continuaremos a ser irreversivelmente alvos dos tecnocratas de Bruxelas, Roma, Aix-la-Chapelle ou Paris…

Se nos afirmam que "defender uma Europa dos povos" significa, por deslizamento semântico, "apoiar a Europa do euro", a "Europa do Banco Central", a "Europa dos países", tenhamos a minima decência de nos afirmarmos "antes escravos que servos" ; porque um escravo luta pela sua liberdade, enquanto um servo nunca deixará de ser um animal doméstico.

Saibamos interpretar o que nos dizem desde o "politicamente correcto", não permitindo manipulações que nos conduzam a aceitar como verdadeiras, afirmações produzidas por individuos e instituições que não nos merecem nem o beneficio da dúvida.
Não aceitemos conceitos, que nos dizem implícitos, subentidos ou tácitos, sem um exame critico aos mesmos.
A linguagem, conjuntamente com a percepção, é como um apoio instintivo ao pensamento, e já conhecemos o poder que instintos e emoções têm na consciencialização do que testemunhamos, ou do que nos fazem crer que são factos que podemos testemunhar.
Sejamos suficientemente criticos para indagar se o que nos dizem ser acontecimentos históricos, se fundamentam em factos reais ou em monumentais aldrabices.

VIII

O "nacionalismo" pode ser, e tem sido, encarado como um processo mais de fazer política, ou seja, de chegar ao poder politico, como se fosse um produto mais do supermercado da "partidocracia" : o nacionalismo na prateleira de cima, entre o liberalismo e o marxismo…
Porém, "nacionalismo" ao provir da raiz "nação", um termo que sociologicamente refere uma "unidade etno-cultural", é projectado como conceito englobante de duas realidades de importância maior : o etno (povo) e a cultura.
Talvez por isso, o "nacionalismo" mantém um poder subjectivo junto dos povos que o sistema politico-religioso dominante não conseguiu desvanecer, apesar de todo o esforço de "demonização", de vilipendia e desqualificação, infelizmente secundado por um tropel difamatório originado por individuos em crise de ansiedade.

A nossa defesa do "nacionalismo" fundamenta-se na concepção do próprio "nacionalismo" como filosofia de vida, de coexistência em comunidades subsidiárias, do "ser" como finalidade, e na recusa do "ter" e da usura como objectivo.

Uma Europa, representação política dos povos e expressões culturais que a determinam, somente será possivel se iniciarmos a sua restauração pela raiz da árvore (yggdrasil) que é seu suporte e representação.

Apoiamos a Europa, o renascimento europeu, numa perspectiva nacionalista (desde as nações que a constituem), e não como expressão dos países (dos governos, das multinacionais e dos bancos) , qualquer que seja a oligarquia que se pretenda colocar no "trono", qualquer que seja a divindade que se pretenda colocar no "altar".

Para que as novas gerações possam ser intelectualmente livres, ou que pelo menos tenham oportunidade de o ser !

"Anerrifthô Kubos"
(Que se lancem os dados)
Julio César, após atravessar o Rubico - 49 EP

sábado, 26 de maio de 2007

Sapientia est Potencia. (1/2)



.



* os homens crêem
no que querem crer

.

I

O que distingue o Homem dos outros viventes do "reino animal", não é a força, a velocidade ou o tamanho mas sim a capacidade de raciocínio do seu cérebro, a interpretação dos factos, a imaginação ou as emoções.
O filósofo grego Aristóteles designava o Homem como "animal racional" ("zoon logikon") e o cristão Gregório de Nazianzo, o Teólogo (c. 329- 390 EA) denominava-o "animal divino" ("zoôn theoumenon").
Duas perspectivas que, embora fundamentadas em conceitos contraditórios (racional vs divino), visam distinguir, engrandecendo-o, o animal-Homem relativamente aos outros animais.

Se em certas culturas (e.g. no hinduismo) se manifesta uma acentuada sensibilidade ao sofrimento dos animais, acercando-os aos humanos e protegendo-os, entre nós a diferença entre o humano e o animal é acentuada através da ausência, nos animais, de manifestações intelectuais (racionais) que são implícitas nos humanos : razão, história, linguagem, consciência, etc.
O enciclopedista Georges Leroy, nas "Lettres sur les animaux" (1781), critica o "instinto" como modo de pensamento reservado aos animais, noção publicada pela "Encyclopédie de Diderot et d'Alembert" (1751-1772) e que, a nivel da teoria do conhecimento, foi assumida como uma figura contrária à razão : o animal tinha instinto porque não tinha razão.
"A contrario" depreendia-se que se o Homem tinha razão… não tinha instinto.
O animal confundia-se com a espécie a que pertence, pelo elementar e invariante que é o instinto, gerador de processos repetitivos, enquanto a razão humana não cessava de produzir diferenças.
Porém, o biólogo Konrad Lorenz (1903-1989), afirma que certos instintos do animal (instintos ditos secundários) são produto de processos complexos, e deplora que no Homem exista uma vontade de os excluir, o que lhe origina uma constante inadaptação. Para Lorenz, um dos "oito pecados" da cultura europeia é de ter desenvolvido uma indeterminação do instinto, que afecta principalmente o comportamento dos jovens que, em vez de confiarem nos instintos, actuam por cópia de "modelos societários" propaladas pelos meios de propaganda do sistema politico em vigor.

Com efeito, tanto o cristianismo com o "homem portador-de-alma" ("homem divino"), como os enciclopedistas com o "homem superador do instinto" ("homem razão"), enfrentando-os ao animal "simplesmente instinto", afastaram-se do conceito de Aristóteles ("animal racional") e, por divagação transcendente ou por racionalidade inconsequente, despojaram conceptualmente o Homem dos seus "instintos" de animal, hoje entendidos como comportamentos inatos de qualquer animal, incluindo o Homem.
Os instintos, de qualquer animal, são esquemas metabólicos recorrentes com a dupla função de conservação (preservação da vida) e reprodução.

Considera o Prof. António Damásio, norte-americano de origem portuguesa, chefe do departamento de neurologia do Colégio de Medicina da Universidade de Iowa (EUA), que a razão do aparecimento do cérebro nos seres vivos mais elementares, teve como causa a necessidade de assegurar a sobrevivência do corpo.
Em seguida, o cérebro elaborou em si mesmo processos de representação do corpo para ter em consideração o seu estado e desenvolveu, num contexto de sobrevivência, um conjunto de estados mentais (emoções) originados nas modificações produzidas no corpo pelo mundo exterior. A função das emoções será a de nos tornar sensíveis ao meio em que vivemos, e podermos incluir-nos nele.
O Homem manifesta emoções, reacções naturais que lhe permitem, directa ou indirectamente, preservar o seu corpo e assegurar o equilibrio interno. Face a uma ameaça, vai sentir medo, e antes que se imobilize, fuja ou ataque, vão-se produzir modificações no seu organismo, relacionadas com o fluxo sanguíneo e a segregação de hormonas. É esta série de reacções, visivéis ou não, que constituem o que designamos por "emoção", um estado afectivo intenso, caracterizado por uma brusca perturbação física e mental, iniciadora de uma modelação inadequada de reacções (euforia, depressão, insensibilidade ou indiferença), podendo afectar (secundariamente) certas funções cognitivas.
Perante uma determinada situação, por exemplo "de perigo", o instinto "metaboliza" sistemas orgânicos que provocam um estado emocional e a consequente consciencialização do perigo.
Resumidamente, a emoção é um fenómeno mental traduzido numa expressão somática originada pelo instinto.

II

É de grande importância para compreender o desenvolvimento dos processos de raciocínio, conhecer a influência do instinto humano na inicialização das emoções e na consciencialização das percepções que originaram a activação desse instinto.
Na actualidade, o sistema político-religioso envolvente (o "politicamente correcto") utiliza frequentemente "casos de figura" capazes de iniciar um processo emocional que será "registado" (consciencializado), provocando "pseudo-saberes adquiridos", e posteriores comportamentos assumidos como "vontade própria", e que na realidade são produto de "técnicas de manipulação da mente" ("mind control").

Perante situações obviamente falsas, as técnicas de manipulação conduzem o raciocínio dos implicados a conclusões aberrantes, em contraste manifesto com a realidade.
O caso paradigmático habitualmente citado como exemplo de "mind control" concerna o relato do choque de um hipotético avião Boeing 757-200 contra o edificio do Pentágono, em 11/09/2001, e que, apesar de ter 47,32 m de comprimento e 13,6 m de altura, de ter 100 toneladas de peso e de transportar 53 passageiros e 9 tripulantes, não é visível nas fotografias realizadas à chegada dos bombeiros, e nas quais igualmente se pode constatar que a fachada, contra a qual se teria volatilizado o avião (essa é a explicação oficial), permanece ainda erguida, derrubando-se cerca de 30 min mais tarde.
No entanto, ainda hoje, muitos dos que foram submetidos à mencionada manipulação (essencialmente televisiva) continuam a duvidar da sua capacidade de raciocínio e rendem-se às conclusões que lhes são apresentadas, coincindentes com a consciencialização que fizeram no momento do "acontecimento".

Hoje em dia qualquer Estado tem os seus técnicos de "mind control" cujos serviços já não são utilizados exclusivamente em campanhas eleitorais, mas sim durante todo o tempo.
Desde os compêndios escolares às séries televisivas, tudo é tratado com técnicas publicitárias, incluindo imagens e sons subliminares, espectáculos (desportivos e outros) que desviam a atenção de problemas reais, e conduzem a uma ocupação do tempo que resta livre depois do compulsivo periodo de produção-consumo.
O individuo, cada vez mais integrado num sistema intelectualmente concentracionário, não sente vontade, nem disponibilidade, para meditar, tranquilizar-se e aprofundar conhecimentos que lhe não são fornecidos pelo sistema politico-religioso em que está inserido.
Condicionado de forma não-consciente, actua incorporado num esquema societário de servidão voluntária, tomando decisões e assumindo conceitos que crê serem produto de uma cogitação própria, e que na realidade lhe são sugeridos pelas técnicas de "mind control".

Na Antiguidade, embora sem as sofisticadas técnica actuais, os Estados sempre procuraram influenciar os seus governados, daí que os filósofos se afastassem do bulício das cidades fazendo-se anacoretas, refectindo de acordo com os seus conhecimentos, instintos e emoções.
No "Peri Politeias" ("República"), Platão (através do personagem Sócrates) desenvolve a teoria do "rei-filósofo":
"Enquanto os filósofos não forem reis nas cidades (polis), ou que aqueles que denominamos reis e soberanos não forem verdadeira e seriamente filósofos ; enquanto o poder político e filosófico não se encontrem no mesmo sujeito (…) não cessarão, prezado Glauco, os males das cidades (polis) (…)"
Platão in "Peri Politeias" ("República"), V,474 a

III

Uma das mais importantes tarefas do Homem como "animal racional" é, com base na linguagem, encontrar uma forma política para a sua comunidade, uma organização da "polis" assente na subsidiariedade entre os que a constituem.
Daí que Aristóteles lhe atribiu capacidade "política", e o designou como "animal racional e politico" ("zôon logikon kaï politikon"), ou seja, com competência para organizar e estruturar o governo da comunidade.

Talvez pensando no "rei-filósofo", Juvenalis, nas Satiras X 356, implorava "uma mente sã em corpo são" ("orandum est ut sit mens sana in corpore sano").
Porém, na ausência de tão desejado personagem, que o próprio Platão tentou localizar em três falhadas tentativas (junto dos tiranos de Siracusa), compete-nos a nós, nem reis nem filósofos, encontrar, ou pelo menos tentar encontrar, uma solução de compromisso colectivo no respeito das individualidades, não o que vem sendo tentado com o objectivo de preservar o "poder", o compromisso entre individualidades para impor um colectivo, e que está na origem do Estado omnipresente que todos conhecemos.
Foi esse desvirtuar dos principios que implicou a formação de sociedades, estruturas que albergam individuos, em prejuizo das comunidades, partição de bens, direitos e deveres, entre pessoas com objectivos comuns.
O essencial não passa pela estrutura, seja qual for, mas pelo acto que decide, "hic et nunc", um compromisso entre pessoas solidárias.

Solidariedade que resulta de um desejo de subsidiariedade, de uma necessidade de complementariedade que não se impõem por decreto, mas que são assumidas por consciencialização de uma emoção colectiva.
Emoção provocada pelo instinto de conservação quando estimulado pela possibilidade contrastada do renascimento de uma estrutura efectivamente representativa dos anseios mais profundos de um povo.
Na Europa, vários são os exemplos de "nações" (unidades etno-culturais) que, readquiridos certos direitos de auto-governabilidade (descentralização/desconcentração/autonomia) obtiveram uma melhora considerável nas suas acções económicas e culturais, tal como se verificou (e verifica) em regiões da Itália, Bélgica ou Espanha.

IV

As ideias de "Imperium" foram o grande enterrador das expressões culturais europeias.
Os romanos com os seus entrepostos comerciais difundiram a noção de negócio, convertendo a economia em crematística e secundarizando as linguas autóctonas.
Relembremos que Aristóteles revela em "Os económicos" e na "Ética a Nicómaco" qual a diferença fundamental entre o económico e o crematístico :
- a economia ("oikonomia" - "oikos", casa, e "nomos", administrar), como "administração da casa", e em sentido lato "gestão da cidade", da "polis".
- a crematística (de "khrema", que provém do verbo "khrao", significando ter na mão, possuir), ou "processo de enriquecimento".
Segundo Aristóteles, a acumulação de moeda como objectivo, é uma actividade "contra-natura" que deshumaniza quem nela se envolve e, tal como Platão, condena a usura e a acumulação de riqueza.

Os romanos, além da mitologia, pouco retiveram da cultura grega, copiando, com relativa fidelidade, o que era expressão civilizacional ; quase todo o restante era etrusco.
Com essa falta de produção cultural própria, como assinalaram, entre outros, Ovidio, Juvenal, Virgilio e Cicero (admiradores da cultura grega), o Império de Roma foi paulatinamente cavando a sua própria sepultura, transformando-se cada vez mais numa enorme empresa, dobrada pelo peso da burocracia.

Abraçada às cinzas da Roma imperial, a Igreja actuou estratégicamente na busca de outro "poder político" em que se pudesse amparar, e não hesitou em apoiar a Carlos, mordomo e posteriormente usurpador do trono (com a benção papal) do rei merovingio Theodorico (Thierry IV), e apodado Martel (martelo) pela forma como combateu os sarracenos e os mouros em Poitiers.
O futuro deu-lhe razão, e consguiu o apoio desejado com a subida ao trono de Carlos Magno (Carolus Magnus), filho de Pepino III, o Breve, coroado pelo Papa Leão III, em Roma, como "imperador dos romanos", no dia de Natal do ano 800, que na época correspondia ao 1º dia do ano.
As acções de Carlos Magno, preocupado pela ortodoxia cristã, foram sempre subordinadas às regras dessa doutrina, o que se reflectiu no denominado "renascimento carolingio" ("renovatio"), uma poderosa campanha de aculturação dos povos europeus conduzida por sacerdotes escolhidos pela sua capacidade de impor uma "cultura cristã", tais como o visigodo Theodulf ou o británico Alcuin.
Como paradigma desta ofensiva contra a cultura dos povos europeus distingue-se a campanha contra os saxões (durante 32 anos) que terminou pela conversão forçada ao cristianismo daqueles que tinham sobrevivido aos massacres.
Pelo tratado de Verdun (843) o Império é dividido pelos três netos de Carolus Magnus, iniciando-se o seu despedaçar em feudos senhoriais, apesar das tentativas de reconstrução de um Império europeu pelos soberanos do "Santo-Império Romano Germánico" de Oton I em 952, até Carlos Quinto, no século XVI, e mais tarde por Napoleão, um militar imposto pela maçonaria com o mesmo propósito.
As "unidades etno-culturais", despedaçadas pelo "renovatio" de Carlos Magnus e seus seguidores, com o activo apoio da Igreja, sofre uma nova investida com Francisco 1º através do "ordenamento de Villers-Cotterêts", em 1539, que dá origem aos denominados "Estado-Nação", uma preversa forma de amalgamar povos diferentes (e culturas diversas) no seio de uma fictícia unidade que está na origem dos actuais "países" europeus.
--
continua para (2/2)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Grande Irmão



Estado protector…


Segundo uma ingénua literatura, o Estado nasce com a finalidade de cuidar os individuos protegendo-os de qualquer agressão (física ou intelectual), obtendo para isso a exclusividade de actuar com violência, sempre que considere necessário preservar as pessoas de alguma violação aos seus direitos.

Na realidade, com o argumento de proteger os individuos da violência, o Estado (ou seja, a oligarquia) converteu-se no maior agressor qua jamais existiu, transmutando em beneficio próprio, e institucionalizando, um poder de constrangimento exageradamente inadequado ao eventual perigo.
Para que essa inadequação não seja demasiado evidente, e para manter uma manipulação pelo medo, facilita desmandos que mantém estratégicamente controlados, caso evidente nas revoltas das "banlieue" francesas, ou criando um terrorismo próprio, como o de al-Qaeda e consortes!

A litania de que o Estado deve adquirir todos os direitos, sempre que declare actuar na defesa de supostos perigos, para o bem-estar dos eleitores (na realidade dele mesmo), justifica despesas incontroladas e abuso de poder.

Dizia Séneca que a arte da tirania é impor o poder pela justiça (pelas leis) e não pelas baionetas !
Com efeito, a tão apregoada "independência" da justiça reside nas leis, legisladas pela oligarquia, e aceites credulamente pelos individuos que, de outra forma, reagiriam às baionetas.

A oligarquia tem a sua própria agenda, na qual o eleitor somente figura como fonte de financiamento.
Todo o envolvente são estratagemas para submeter o manipulado pagador de impostos que, credulamente, se mostra agradecido, numa transcendente aceitação de servidão voluntária, contra a qual, já no século XVI, prevenia Etienne de La Boëtie.

sábado, 5 de maio de 2007

Conceito de Nacionalismo 2/2





O homem culto
tem a sua energia dirigida para dentro,
o civilizado para fora.
Oswald Spengler (1880-1936)


II

O real é, possivelmente, uma ficção inspirada pelo imaginário, e a História talvez não passe de um acto de invenção (no sentido de descoberta), pelo que, se do mito regorja a realidade humana, diremos (citando Antonin Artaud -1896/1948) que "onde se sente o ser, sente-se o imaginário".
A questão está em determinar a fronteira entre o real e o mito, entre a razão e a imaginação!

É bem sabido que as realidades são instáveis, pelo que a tentação de impor imaginários como sequências do real é um ideal politico bem conhecido pelos demagogos, sempre prontos a aconselhar a servidão voluntária a ignorantes bem alimentados e convenientemente manipulados pelos "intelectuais democratas", esses defensores acérrimos dos valores de mercado, colaboradores do realismo capitalista como outrora colaboraram com o realismo marxista.

O ideal democrata, na versão dos citados "intelectuais", é como um sacrificio não ressentido, uma cedência soberba para auto-satisfação.
Mais não são que afirmações vazias de conteúdo que, na vivência quotidiana, anunciam e pontificam actuações egoístas, drasticamente divergentes do ideal mitológico da partição que a humanidade crê ter feito com os deuses, ou consigo mesma, para compreender o mistério que lhe permitisse encontrar respostas às dúvidas que formula.

Conduzidos por esses arcanjos do "time is money", os "humanos" (como diria Nietzsche), redutoramente consideram a vida como um processo unidimensional, lapso de tempo entre dois acontecimentos, sem superficie nem volume, de provável passado e eventual futuro, enquanto se deixam envolver, como num abraço de urso, pela dificuldade em conseguir consciencializar a sua vivência e determinar-se como "Ser" (o "Dasein" de Heiddeger) sem o subordinar ao "Ente" ; ou seja, em assumir a essência do "ser", e secundar a aparência do "ter".

Os designios da sociedade que nos toca viver são exclusivamente civilizacionais ("dirigidos para fora" - Spengler) pelo que a intitulada "cultura moderna" (uma adjectivação metafórica) constitui como objectivo, antes de qualquer outra razão, a negação da Cultura (sem adjectivos), instituindo um tempo acelerado e agitado, oposto a qualquer forma de tranquilidade, de "ataraxia", e objectivamente impedindo a ponderação necessária ao raciocinio …

Somos condicionados a uma atitude agitada, a uma permanente intranquilidade conduzida pelo relógio do coelho da "Alice no País das Maravilhas", aquela obra satirica de Charles L. Dodgson (Lewis Carroll) em que um coelho com um grande relógio corre todo o tempo gritando que está atrasado… sem nunca precisar de que atraso se trata.
Vivemos imersos num paradoxo temporal, num absurdo orientado ao desejo compulsivo de possuir ("hybris")!

Em "Humano, demasiado Humano" ("Menschliches, Allzumenschliches"), Friedrich Nietzsche escreve :
"Essa agitação torna-se tão grande que a cultura superior já não pode amadurecer os seus frutos; é como se as estações do ano se seguissem com demasiada rapidez. Por falta de tranquilidade, a nossa civilização transforma-se numa nova barbárie. Em nenhum outro tempo os activos, isto é, os intranquilos, valeram tanto."

A asfixiante pressa com que o "humano" trabalha, vício peculiar ao Novo Mundo e que contaminou a velha Europa, sobre ela espelha uma singular ausência de mentalidade critica. O descanso envergonha, e a reflexão quase produz remorso.
Como no periodo laboral, também nos tempos livres, condicionado como está pelo movimento, o "humano" necessita ruido e bulício, e faz as refeições, outrora um momento de descanso e de reencontro com a familia, em pé, devorando um "qualquer coisa", com os olhos voltados para a televisão, que lhes diz sobre que pensar e como.
Vive, ou melhor, existe como se a todo instante pudesse perder alguma oportunidade insuspeita, pelo que decide que "é melhor fazer qualquer coisa do que nada", princípio esse que está na base do processo de liquidação da Cultura, confundida com o "saber técnico".
"Fazer algo" é "executar obra", é produzir o que tenha valor de transacção!

Teoriza-se política "assemblando" conceitos, como quem monta um "legos", com base num "saber" assente na memorização de teoremas, fórmulas e leis, e quem assim procede sente-se no direito de expressar comentários "sobre tudo e coisa alguma", como se um técnico de construção civil, por esse facto, tivesse legitimidade para se expressar sobre Astronomia.

O que a "cultura moderna" dissimula, porque lhe é contraditório, é que a posse de um diploma universitário, por si mesmo, indicia tanto o grau de cultura do seu titular, como um curso de gramática indicia um poeta.
A "barbárie" da especialização foi claramente definida por Ortega y Gasset, não como complemento da Cultura, mas como anti-Cultura.

III

Também os pensadores do discurso político, agitados, apressados e especializados, nem se apercebem em que poça metem o pé, nem em que chapéu escondem a cabeça!
Segundo normas do "business", consideram imprescindível mostrar actividade (que continuam a confundir com produtividade), o que, como encobrimento de deficiência própria, os leva a copiar com atenta reverência o que outros, noutras paragens e latitudes, decidem entre eles.
Não me refiro, obviamente, à transcrição de textos para estudo e análise, mas sim às cópias bovinas sem qualquer cuidado de referenciar o contexto cultural do original, habitualmente nos antípodas do caseiro.

Alguém me comentava, num raciocinio à Ramalho Ortigão, que o pesadelo tem algo de bom, pois desaparece quando despertamos.
Assim que, despertemos e procuremos, sem pressas nem cópias, bem delimitar o conceito de Nacionalismo, como defesa de uma identidade nacional, um sentimento de pertença a uma comunidade étnica e cultural denominada Nação.

Embora o vocábulo ainda não tivesse sido criado, Nação era o conceito que já aflorava nas tribos e clãs do neolítico europeu e que se manteve através das culturas indo-europeias (germanas, celtas, eslavas…).
É a partir dos Valois, ramo da dinastía dos Capetos, e precursora dos Bourbons, e da Guerra dos Cem anos (1337 à 1453), que se preverte o conceito inicial de Nação, afastando-o de uma noção de homogeneidade e complementariedade, e favorecendo o amalgama de povos e territórios em favor de uma crença conduzida pela mitologia da Jeanne D'Arc, como para outros pelo Nuno Alvares ou pela padeira de Aljubarrota.
Em 1539, a "Ordenança de Villers-Cotterêts" (192 artigos), assinada pelo rei Francisco I, entre outras coisas impõe a lingua de "Oil" como "exclusiva lingua de França", em prejuizo de outras expressões culturais como, por exemplo, a lingua occitana (lingua de "Oc") em que se expressavam os trovadores, cujas canções de amor e de amigo chegaram até ao NO Ibérico.
É o incio do caminho que desemboca no absolutismo real e no centralismo jacobino.
Mais tarde, em pleno século XIX, e desbordando sobre o século seguinte, o conceito de Nação dilui-se nas noções de País e de Pátria !

Optando por um posicionamento de perspectiva e circunstância, basicamente definimos a nossa proposta nacionalista como uma intenção de conjugar a vida do individuo com a organização social em que vive, permitindo-lhe superar, através de uma análise crítica permanente, as contradições eventualmente surgidas na confluência do individuo e da comunidade.
Uma cumplicidade entre nacionalismo como comunidade consentida e vitalismo como vivência assumida!

Esta cumplicidade entre o ser-humano e o meio social, entre o nacional e o vital, origina um projecto que não pretende ser, que não é, uma teoria política mais, uma etiqueta eleitoral entre as demais que o "sistema politico" põe a disposição do individuo-consumidor.
Recorrendo a Platão, e à metáfora da tecelagem, diriamos que o projecto "nacionalismo-vitalismo" é o tecido que protegerá o individuo dos excessos dos "profissionais" da política, e da sua subserviência a estratégias alógenas que, pelo seu poder mediático e financeiro, os induz a serem demagogos e incompetentes, e não raramente corruptos.

Afirmação de vontade e de responsabilidade, pretende ser a expressão das necessidades e das suficiências de um povo, qualquer povo, objectivamente voltado para uma vivência integrada na Natureza de que é parte, vivendo "segundo uma economia" bem ordenada que lhe permita um relacionamento adequado entre "praxis" e "poiesis", e não "para uma crematística" que faz dele um compulsivo "produtor-consumidor".

Tentemos compreender a relação "nacionalismo-vitalismo" como uma filosofia de vida, e simultâneamente uma organização comunitária que permita essa vida.
Cremos que expressa os valores éticos e estéticos a que a tradição nacionalista europeia nos teria conduzido se tivesse havido a coragem e a decisão de recusar a redutora e totalitária decisão dos Valois, confirmada pelo "complot" maçónico de 1789 e exportada por Napoleão Bonaparte, um "iniciado" da loja maçónica "Grand Orient".

O projecto "nacional-vitalista" propõe um regresso à comunidade de interesses entre pessoas livres, à vivência como expressão do "ser" e à convivência como empatia social.
Partindo da Nação, poderemos alicerçar uma Europa dos Povos.
A única Europa que valerá a pena viver!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Conceito de Nacionalismo 1/2





Regresso à cultura !
.
.
(Zurück zur Kultur)
Arnold Gehlen (1904-1976)
.
.

I

Arnold Gehlen insistia para que, antes de nos lançarmos em apologias ou desqualificações sobre conceitos e teorias, regressássemos à cultura ("Zurück zur Kultur), e confirmássemos o que pensamos conhecer.
Com efeito, perante um mundo, tecnológico e sofisticado, muitos crêem que as presentes realizações civilizacionais foram obtidas desde inovadores e surpreendentes processos de raciocinio, capazes de ridicularizar os mais carismáticos pensadores da Antiguidade.
Nada de mais fundamentalmente errado!
Em filosofa, seguem-se utilizando as "ferramentas lógicas" que herdamos da Grécia Antiga, e até os teólogos modernistas continuam a pontificar os conceitos que os escolásticos definiram na Idade Média.

Em todas as disciplinas, o recurso aos clássicos é uma exigência de método, quase uma higiene mental.
Para além das transformações técnicas e sociais mantém-se o recurso a valores de excepção que, da arte da guerra aos recursos da política, de Clausewitz a Spengler, confirmam conceitos e métodos que, adaptados circunstancialmente, confirmam a sua perenidade.

Esses valores de excepção constituem um legado cultural sobre o qual devemos continuar a construir um presente que possa ser um passado de orgulho para as futuras gerações.
Assumamos a cultura como um conjunto de conhecimentos obtidos pelo raciocinio, pela experiência e pela crença, transmitidos na relação com o meio social e ambiental, e não a confundamos com civilização que é a sua manifestação técnica.

Aproveitando o facto de que na lingua alemã existirem dois termos para significar cultura, podemos facilmente identificar os dois niveis de interpretação do conceito.

O termo "Bildung" refere "educação-formação" de um determinado individuo, enquanto "Kultur" corresponde a um património social, artístico, ético pertencente a um conjunto de individuos dispondo de uma identidade (grupo identitário).
Existe igualmente o termo "Weltanschauung" (de "Welt", mundo, e "Anschauung", ideia, opinião) como "visão do mundo", ou seja, a representação que nos fazemos do mundo com base na nossa "Bildung".

Defendemos que a cultura abarca três grandes grupos de manifestações : a arte, a linguagem e a técnica.

Em 1952, Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn catalogaram mais de 100 definições de Cultura…
Qual a origem de semelhante inflação de designações, definições e significados?
Creio que a razão principal provém das aproximações mais ou menos incorrectas de muitos sociólogos e antropólogos culturais que pretendem catalogar e sistematizar conceitos culturais como se de uma colecção de borboletas se tratasse.
O desenvolvimento hipertrófico do trabalho de campo, assim como a exagerada utilização da estatistica e dos indicadores numéricos, têm conduzido os técnicos à errónea conclusão de que uma Sociedade pode ser culturalmente classificada e quantificada pelos potes de cerâmica produzidos.
Confundir causas com consequências levou a que a palavra "cultura" tenha adquirido uma tão vulgar divulgação que a maioria dos utilizadores do vocábulo refere-se a ele como a um artigo mais deste mercado em que se converteu o mundo.

Os termos Sociedade e Cultura adquiriram um consenso nos manuais de Sociologia que se pode traduzir pelo que afirma o manual de Rocher referindo Sociedade, como o termo que define todas as relações organizativas geradas pelos indivíduos de um mesmo sistema social, e Cultura, como o conjunto das formas de fazer, sentir e pensar (Guy Rocher "Introducción a la sociología general" - ed. Herder - Barcelona 1985).
Não obstante o consenso, sob esta diferenciação esconde-se um permanente "amalgama" na utilisação destes conceitos e na sua identificação.
Por um lado porque se pretende atribuir à Sociologia um rigor ciêntifico de ciência experimental, que ela decididamente não tem, e por outro lado porque se pretende evitar uma definição do conceito de Civilização, o que permite aos funcionários da política a sua utilização nas mais diversas e pós-modernistas acepções.

O uso abusivo e totalizador do termo "Sociedade" engloba todo o tipo de organização e as suas manifestações, pretendendo aglomerar num mesmo conceito as estruturas latentes (normas de vivência de uma colectividade) com as estruturas aparentes (produtos dessa colectividade).
O relacionamento entre estas estruturas é sem dúvida intimo mas, enquanto a estrutura latente significa a "forma organizativa da Sociedade", a estrutura aparente determina o "conteúdo material produzido pela Sociedade".

O processo actualmente utilizado pelo poder "politico-religioso", consistente em amalgar a organização formal (política) da Sociedade que se realiza através das relações de afectividade, coesão e hierarquia dos que a constituem, com as produções materiais dessa mesma Sociedade, visa a deslocalizar o significado de Civilização e confundi-lo com Cultura.

Pretende-se esvaziar o termo Cultura do seu conceito de "arte" e substitui-lo pela noção de produto, ou mercadoria.

Civilização é a exteriorização utilitária da Cultura, enquanto Sociedade é o conjunto de pessoas que, através da sua organização formal, são causa e consequência de uma Cultura.

Como se constata, a ambiguidade actual do termo Cultura é conscientemente provocada com a finalidade, não de o fazer desaparecer, pois poderia "renascer", mas alterar-lhe o conceito e o propósito.

Atente-se às actividades de um Ministério da Cultura que, além de ser, como qualquer outro, uma prebenda para um funcionário-politico, habitualmente incompetente na função, tem como função primordial distribuir subsidios por toda uma corja de parasitas que colabora com o poder politico-religioso, aliado à Nova Ordem Mundial, na divulgação de mercadorias pseudo-intelectuais orientadas à formação de um "pensamento único" e "politicamente correcto".
A filosofia nacionalista de Cultura será a negação da pornografia cultural que os herdeiros do marxismo tentam impor-nos através de pintores de abstracto, dramaturgos da anedota, músicos do batuque e escrevinhadores por encomenda.
O Nacionalismo propugna acabar com a pseudo-cultura oficial, que mais não é que um orçamento dedicado a sustentar, através de uma fantasmagórica instituição governamental, todo um sub-mundo de modas, droga e homosexualidade.

O que o liberalismo-marxista denomina de cultura, é um conceito que pretende destruir as expressões culturais nacionais para melhor promover a extinção biológica através da quebra da natalidade e da invasão migratória.
A "união europeia de mercados" ou os "federalismos europeus" (das Curilhas às Berlengas ou de Istambul a Rabat) visam objectivamente a desintegração das nações europeias e o genocidio cultural.

A Cultura europeia, ou é uma expressão dos povos que constituem a Europa, ou será uma moda alógena vinculada numa qualquer população que habita uma qualquer área geográfica!

Deveriamos reflectir sobre a noção nietzschiana de Super-homem : um Ser livre que cria valores e formas de vida porque têm em si a força, a lucidez e a nobreza cujo princípio não é o "Tu Deves", nem o "Eu Quero", mas sim o "Eu Sou" dos "deuses" gregos.

"Ser europeu" não é uma circunstância meramente geográfica ou política, mas sim uma expressão étnica e cultural fundamentada numa realidade territorial, numa particularidade denominada Nação.
Esse natural e minimalista conceito contém nele a vivência de cada um que o habita e a estrutura da comunidade que o contém.
O conceito que devemos ter do Nacionalismo é exactamente o de um compromisso entre a realidade da Nação (comunidade) e o vitalismo dos seus componentes (individuos).
---
continua para 2/2